04/04/2015

Sim eu tenho Parkinson, e daí? (2)

     No dia quatro e abril do ano passado, eu escrevi - e distribui nas redes sociais, um texto assumindo o Parkinson em minha vida (http://migre.me/pki23). Na ocasião, decidi tornar público o fato ser portador da doença, justamente no dia em que se comemora do o Dia Nacional do portador da Doença de Parkinson, motivado pela descoberta de uma oportunidade em minha vida. Recebi uma infinidade de mensagens de apoio pela abordagem.
     Pois bem, depois de exatamente um ano, numa reflexão sobre este período, estou positivamente surpreso com o desenrolar dos acontecimentos e da vida. Enfrentar o Parkinson com tranquilidade e responsabilidade foi uma decisão correta. O acompanhamento de um médico em que o paciente confia, utilização da medicação corretamente, praticar exercícios e uma rede de apoio forte, são os quatro pilares principais do enfrentamento da DP. O médico que te orienta e te trata com respeito e humanidade são tão importantes quanto a rede de apoio, da família e de amigos, por serem a sustentação psicológica e emocional. O uso correto da medicação está associada diretamente à prática de atividades físicas e exercícios continuados. O portador da DP precisa evitar o sedentarismo e a convivência com gente chata e down tanto quanto precisa de medicação e alimentação corretas.
      Naquele texto de um ano atrás, revelei a descoberta de um Programa de Caminhada e Caminhada Nórdica para pessoas com DP no laboratório de Pesquisa do Exercício da ESEF-UFRGS. Pois bem, esta oportunidade foi além da minha expectativa. Participar deste programa como pesquisado revelou para mim mesmo um lado humano que eu ainda não conhecia. Conheci gente como eu. Este trabalho juntou pessoas de diferentes perfis. O Parkinson é amplo e democrático, atingindo pessoas de todos os sexos, cor de pele, profissão, grupo social ou étnico. Arrumei amizades novas e dos mais diferentes matizes. Criamos um grupo de relações sociais que denominamos, carinhosamente, de Xô Parkinson, contribuímos para a Universidade Federal tornar o projeto algo permanente e hoje existe a Extensão em Caminhada e Caminhada Nórdica para Idosos e Portadores da Doença de Parkinson, uma atividade permanente. Convidado para colaborar como voluntário, aceitei na hora, eu foi uma das melhores coisas que fiz na minha vida, porque não paro de conhecer gente boa.
      Meu último check up repetiu os anteriores e os médicos garantem que estou melhor hoje do que estava antes de ter Parkinson. Minha família também observou que melhorei muito. Posso afirmar com precisão que ser contemplado com a Doença de Parkinson não decretou o fim da minha vida. Ao contrário, determinou uma correção no rumo dela. Me reinventei como ser humano e como trabalhador. Se algumas pessoas se afastaram com nojo da doença, novas amizades foram incorporadas, com vantagem, porque são melhores do que aqueles... Sem contar que estou bem acompanhado, Ketherine Hepburn, o Papa João Paulo I, Muhammad Ali, Michael J.Fox, Paulo José, são algumas das celebridades acometidas pela mesma doença, além dos meus parceiros e parceiras da Caminhada Nórdica.
      Minha condição física melhorou, corrigi postura, desenvolvi melhor posicionamento e equilíbrio. Dirijo meu carro, executo tarefas que, mesmo as mais simples, eram difíceis pelo forte enrijecimento dos membros ou acometimento de tremores incontroláveis.
      Aproveito para abraçar o Professor Tartaruga e as Professoras Elren, Diana, Natália; os  bolsistas Leandro e Ricardo; e especialmente os parceiros e parceiras de Caminhada neste período: Simão, João Hélios, Lúcia, Edison Franco, Ana Maria, Ricardo Emílio, Luis Carlos, Sílvia, Avaní, Eloí, Donino, Eduardo, Lotário, Gilberto, Enio, Lurdinha, Heriberto, Mauro, Flávio, Ellen, Carmen, Emilson, Jorge, Dulcemara, Faiet, Inácio, Carlos Alberto, Otílio, Eduardo, Lourdes Maria, Fanny e Waldemar.
      A Doença de Parkinson pode ser enfrentada sim!  

      Marcus Vinicius Anflor